pt-BR
2025-04-23

Poema de Júlia de Carvalho Hansen

Poema de Júlia de Carvalho Hansen

Leia um poema de Júlia de Carvalho Hansen

Uma reunião de 27 poemas escritos entre 2013 e 2015, Seiva veneno ou fruto (2016) é o último livro de Júlia de Carvalho Hansen, autora convidada da Flip 2018. Lançada pela Chão da Feira, iniciativa editorial realizada pela poeta ao lado de outras três mulheres, a publicação é permeada pela busca de uma transcendência do real, tenta dialogar com deuses, vegetais e animais. É marcada por uma visão da poesia como tarefa espiritual.

Na Flip, Júlia de Carvalho Hansen integra a mesa 3, Barco com asas, com Laura Erber e Maria Teresa Horta, que participa por vídeo.

 

Leia um poema:

 

É preciso recriar o acontecer.

Dispor de lãs para o inverno

ouvidos para as mensagens

e peles para marcar os sinais

com a ponta do dedo em brasa.

É preciso saber

as regras dos jogos

como extrair os venenos

e que palavras abrem portas

nas orações que ainda não foram compostas.

É preciso retomar a saída da cidade

alimentar os estrangeiros chegados na madrugada

e que depois de terem os pés lavados

acenderam suas fogueiras.

Fornecemos mais do que gravetos e faíscas em gel

mas também papel para que ardessem

ou escrevessem as técnicas de suas civilizações

nas quais o vento tem outros significados

pois as asas de seus deuses batem desde o oeste

e por aqui todos sabem que os deuses vêm da América do Sul.

Os estrangeiros às vezes têm ideias estúpidas

mas não vamos protegê-los de si mesmos

preciso é retirá-los de perto da falésia

para que não caiam nem decidam partir.

É preciso dar a eles a agricultura

pois são o ventre deste país

embora não saibam trazer a chuva

pelo menos respeitam as pragas

e evitam as devastações.

É preciso aquecer os músculos e hidratar a garganta

dar escudos duros e afiar as lanças dos que combatem

protegendo as pedras que dão água.

É preciso não salvar os mortos

mas limpar as ruínas de suas guerras

sem arrancar as ervas daninhas.

É preciso fornecer plantas para a sombra

e luzes no lugar dos olhos

daqueles que perderam a cabeça.

É preciso acolher os feridos

e deitar sal e cinzas

nos seus ferimentos.

É preciso acalmá-los.

E acalmá-los é dar guarida ao breu em que estão.

 

Deixe um comentário

Campos com * são obrigatórios. HTML não é permitido

Realização

Prefeitura de Paraty

Patrocínio

Eletronuclear

Parceria

Jet

Desenvolvimento

Opera2