Terra do ouro, cana-de-açúcar, praias e ilhas maravilhosas, clima campal e muita história. A litorânea Paraty, no Rio de Janeiro, reúne todas essas possibilidades em uma experiência turística que deixa gostinho de ‘quero mais’. Quem já partiu para lá, logo se referencia pelas ruas de pedras e ilhas em meio às águas esverdeadas e convidativas. Afinal, a região é banhada por, pelo menos, 300 praias e 65 ilhas com cachoeiras e outras belezas naturais na faixa de Mata Atlântica.
Paraty, de 351 anos de fundação e patrimônio histórico desde 1966, tem o poder de levar os turistas para os tempos de realezas à cultura hippie, ao aprofundamento da influência maçônica nas construções de arquitetura do século 17 – tombadas pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) –, além de tantas outras experiências que não deixam ninguém cair na monotonia. Tanto que a cidade figura entre as que mais têm programações de eventos no País durante o ano.
A Flip (Feira Literária Internacional de Paraty) é a principal e se destaca por atrair milhares de pessoas de todo o mundo há 15 anos, assim como o Festival de Jazz, que também perdura sua tradição há dez anos. Mas não seria muito simples manter todo esse calendário sem a união do empresariado local – grande parte estrangeiros –, que investe para fomentar a economia, alimentada 100% pelo turismo.
O ‘mergulho no tempo’ pelo Centro de Paraty marca bem a história do Brasil colonial – lá nos anos de 1500 – dos índios que abriram estradas e desceram montanhas em busca de alimentos e abrigo no recanto fluminense. Muitos deles ainda estão por lá, conservando suas tradições e ganhando a vida como músicos e vendedores de artesanatos pelas estreitas ruas. Vias estas cujos carros não passam – em sua maioria – e dão a sensação de calmaria, porém exigem atenção redobrada de quem caminha por lá, pois carecem de manutenção do nivelamento das pedras. Quase impossível imaginar um cadeirante andando pela ruas nas atuais condições.
Quando os passos param e a vista fica direcionada para os casarões e pontos comerciais dos séculos 18 e 19, pode-se entender a importância de Paraty na história do Brasil, explicando, inclusive, as razões para a escolha do estilo arquitetônico do lugar, que protagonizou a expansão comercial dos ciclos do ouro, do café e da cana-de açúcar, no perímetro Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e até para o Exterior.
Bastam alguns minutos observando as edificações para desvendar a influência maçônica, por meio de símbolos como o compasso (que representa o espírito) e o esquadro (a ação do homem sobre si mesmo), que, de certa forma, transmitiam alguma mensagem para os maçons que chegavam a Paraty, vistos como conhecedores e construtores. Na igreja Nossa Senhora dos Remédios, de 1863, é possível identificar a simbologia usada por eles nos detalhes das grades e nos auto-relevos. O templo perdeu o título de matriz depois de ter se tornado reduto da elite paratiense.
Caminhando mais um pouco pela Praça Central estão os casarões, tombados pelo Iphan, com alguns desgastes do tempo, mas com suas estruturas principais preservadas. As casas do ano de 1700 podem ser identificadas pelas sacadas, que eram feitas de madeira, assim como as treliças das janelas e portas. Já os endereços datados de 1800 são mais requintados, com sacadas feitas de metal, assim como o topo das portas e pisos de pedra, marcando a evolução no design colonial.
Nessa época, quem conseguia ter uma casa com dois andares representava mais poder econômico, um ar superior na sociedade carioca da charmosa cidade litorânea. Geralmente os comércios ficavam no primeiro andar e a moradia no segundo. Todas sempre com muitas janelas, para oferecer luz e vigilância aos que podiam invadir a rota do ouro.
Um das charmosas residências que valem a pena dar uma paradinha é a do rei dom João de Orleans e Bragança, que veio de Portugal para o Brasil em 1960 e comprou o imóvel, pintado nas cores branca, verde e amarela, de frente para o mar e com dois jardins, um de cada lado da casa, algo raro naqueles tempos. Todo esse tour histórico pode custar, em média, R$ 220 por pessoa.
DESFILE DE AVES
Paraty tem em sua Mata Atlântica uma imensa variedade de pássaros. De acordo com guias especializados nesse tipo de turismo de observação, são mais de 470 espécies, o que faz com que profissionais do turismo local busquem junto à Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura) o título de patrimônio do Meio Ambiente para a cidade.
Das águas cristalinas às produções do campo
Cenário para filmes, novelas e obras literárias. Paraty se encaixa nessa opção, com praias de águas que parecem pinturas de tão cristalinas. Isso de um lado. Do outro, o verde também predomina, mas nas regiões de campos e fazendas, onde são produzidos vários produtos artesanais, o que coloca a cidade como destaque no País.
As inúmeras opções de praias e ilhas de águas calmas sempre cativam o turista a voltar para Paraty. Chegar a muitas delas é possível somente por barcos, que ficam ancorados no cais do centro históricos. Dentre os locais mais requisitados estão a Lagoa Azul, Saco da Velha, as praias da Lula, Vermelha e da Conceição, ilhas Comprida, da Cotia, do Algodão, Duas Irmãs, Rasa, da Sapeca, entre outras.
Um dos tours mais indicados é o que explora o passeio pela baía de Paraty e Saco de Mamanguá. A encosta é um dos principais e mais lindos fiodes (entrada de mar entre altas montanhas rochosas) dentro da formação geográfica do Brasil, não deixando nada a desejar aos de Groenlândia, Chile e Nova Zelândia. Também é possível fazer expedição em barquinhos e caiaques especiais para conhecer a extensa região de manguezais. O passeio custa cerca de R$ 120 por pessoa e dura quatro horas.
No contraponto de ilhas e praias, Paraty também é conhecida como região de sistemas agroflorestais, que propiciam o desenvolvimento econômico de pequenos produtores de frutas como limão, açaí, manga, acerola, caju, banana, laranja e outros cultivos, aproveitando tudo e inovando em técnicas de recuperação do solo com métodos de plantio que diminuem a degeneração natural das florestas.
A Fazenda Bananal é um dos lugares que têm parceria com a comunidade e realiza trabalho de estímulo à sustentabilidade e à geração de renda para os pequenos produtores do entorno. Lá, o visitante pode conhecer, detalhadamente como se exploram as plantações, pomares e hortas, além de como são feitos os queijos – desde o processamento do leite produzido por vacas e cabras criadas na fazenda. As produções da cana-de-açúcar e farinha de mandioca também são comuns. O passeio dura em média uma hora. O visitante pode almoçar no restaurante do local, que serve pratos feitos com produtos da colheita diária. As sugestões custam, em média, a partir de R$ 50. As visitas na fazenda podem ser feitas de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h, e os preços variam entre R$ 20 e R$ 50.
Se o começo de tudo se deu graças à cana-de-açúcar, ir a Paraty e não provar sua cachaça artesanal é imperdoável. Os sabores são os mais diversificados, indo das tradicionais às aromatizadas. A experiência não fica somente na lojinha onde se compra a bebida. O turista pode conhecer o processo de produção contratando passeio que leva para cachoeiras e alambiques, passando pelo Parque Nacional da Serra da Bocaína. O custo por pessoa é de R$ 80 e a aventura é feita a bordo de um Jeep.
Experiência gastronômica que vai além da receita
Aquele lugar que dispensa comentários quando o assunto é comer bem. Assim é Paraty. Uma mistura da culinária brasileira, privilegiando nossos ingredientes, temperos, hortaliças e peixes da região, com os segredos dos pratos internacionais, algo que cativa o turismo para apostar e se dar bem ao entrar nos estabelecimentos da cidade.
O italiano Pippo, dono do restaurante que leva seu nome, deixou a Sicília, na Itália, nos anos 1990 para fincar sua base em Paraty, de onde não pretende mais se mudar. “Aqui no Brasil há muitas espécies de peixes que completam a minha culinária italiana. Cozinhar para mim é como fazer uma obra de arte, e é isso que pretendemos aqui”, disse logo sugerindo que a boa pedida da casa é o Talharini à Dona Santina, com base de abobrinha, pupunha e camarões ao molho de ovas de peixe.
Para quem quiser viver uma experiência que vai além de simplesmente chegar no restaurante e pedir um prato, o casal Yara e Richard Roberts oferece há 12 anos a cozinha experimental, uma oportunidade de interação que já recebeu dezenas de pessoas do mundo todo, em sua residência no centro histórico de Paraty, comprada há 30 anos.
Yara, que nasceu em Minas Gerais e há 41 anos é casada com o nova-iorquino Richard, já morou na França, no México e em Boston, e ao longo do tempo, virou uma amante da gastronomia, dedicando-se e levando para paladares internacionais as riquezas não só dos ingredientes brasileiros, mas também sobre a relação dos alimentos com a sociedade desde os tempos de realeza. “Convido as pessoas a acompanharem o que estou fazendo. Assim experimentam e entendem as propostas que serão oferecidas”, detalha Yara.
Geralmente o jantar começa às 20h, com Richard demonstrando sua maneira especial de fazer caipirinha. Depois Yara convida as pessoas para participarem da preparação dos pratos, momento esse em que ela dá dicas de culinária, que podem ser aplicadas em outras receitas e que fazem ligação entre os ingredientes, pratos e a história do Brasil. A experiência custa R$ 290 por pessoa, incluindo entrada, prato principal com versão vegetariana ou adaptações a restrições alimentares, guarnição, salada, sobremesa e vinhos.
A jornalista viajou a convite da Paraty Convention & Visitors Bureau