Caminhar pelo Centro Histórico é só uma das viagens que um turista faz em Paraty. Não é tarefa fácil circular a pé por suas ruas em formato de canal, com calçamento de pedras irregular e esquinas desencontradas. Mas todo esse esforço some diante da beleza do casario colonial, dos barquinhos coloridos ancorados na margem do Rio Perequê-Açu ou no cais, das lojas e dos ateliês de arte.
O Centro também sedia o principal palco da Flip, evento de referência para os amantes da literatura. É, também, o ponto de partida para os passeios marítimos às praias mais distantes e ilhas da região. Uma delas, a Ilha do Araújo, revela o cotidiano dos legítimos caiçaras. E aIlha dos Cocos é perfeita para um mergulho livre em águas cristalinas. De volta ao continente, o lado serrano de Paraty é coberto pela mata, pontilhado por cachoeiras e serpenteado por trilhas construídas por escravos nos séculos 18 e 19.
UM DIA PERFEITO
Acorde cedo e faça um passeio de barco (com parada para almoço) para conhecer as praias mais selvagens. Um dos roteiros vai até o Saco do Mamanguá, braço de mar que avança pela cadeia de montanhas, formando dezenas de praias. Na volta, os pães recheados e doces regionais do Café Pingado são perfeitos para você ganhar fôlego e partir para a caminhada pelo Centro Histórico. Ali, entre tantas lojas e ateliês, passe pelo Armazém Santo Antonio, que vende os balões coloridos de papel machê e cabaça tão relacionados à cidade. Finalize o dia com as receitas do Banana da Terra.
O GUIA RECOMENDA
Explore mais o Centro Histórico, começando pela Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Remédios e a Casa da Cultura. Depois, vá às compras nos ateliês, como o de Marisa Bidone, onde a própria lapida joias e bijuterias, e o Armazém Paraty, que vende artesanato indígena. Outras pausas são as lojas especializadas emcachaças e o Thai Brasil, com refeições tailandesas.
No dia seguinte, explore de barco a Ilha do Araújo, onde é feito um peixe na folha de bananeira. Em Trindade estão praias quase desertas como Cachadaço e Antigos e Antiguinhos, com acesso de barco a partir da vila. Por fim, conheça as cachoeiras na estrada para Cunha. No retorno para a Rio-Santos, o banho é de culinária francesa, no Voilá Bistrot.
COMO CHEGAR
A partir do Rio de Janeiro, basta seguir pela Rio-Santos (BR-101) até o trevo de acesso a Paraty. Saindo de São Paulo, prefira a Rodovia Ayrton Senna-Carvalho Pinto (SP-070) – a Via Dutra (BR-116) tem muitos caminhões e menos faixas. No trevo de São José dos Campos, pegue a Rodovia dos Tamoios (SP-099), duplicada até o fim do trecho de Planalto (km 67), e prossiga pela Rio-Santos (SP-055 e depois BR-101) no sentido Ubatuba até Paraty. Outra opção para descer a serra é seguir pela Ayrton Senna até o entroncamento com a Via Dutra e acessar a Rodovia Osvaldo Cruz (SP-125) em Taubaté. A estrada é sinuosa e tem um trecho de serra íngreme e com curvas fechadas, mas termina na BR-101 no centro de Ubatuba, vizinha a Paraty.
COMO CIRCULAR
A única via para entrada de veículos no Centro Histórico é a Avenida Roberto Silveira, que faz a ligação com a BR-101 e concentra bancos, mercados, farmácias e agências de turismo. A Rodoviária fica em uma via paralela, e dela dá para ir a pé ao Centro. A circulação de carros na área histórica é restrita às ruas Domingos Gonçalves de Abreu, Josefina G. Costa, Aurora e Fresca, que contornam o bairro e têm áreas para estacionar – evite parar nos arredores do cais, zona sujeita a alagamento por causa das chuvas e da maré.
O melhor jeito para conhecer os ateliês e restaurantes do Centro Histórico é a pé, com distâncias relativamente curtas. Para alcançar as melhores praias, vale pegar carro ou barco. Da rodoviária central (Colitur, 3371-1238 ou 3371-1224), ônibus partem para Paraty-Mirim (dez saídas diárias entre 5h30 e 22h50; R$ 3,40) e para a Vila de Trindade (17 saídas diárias entre 5h20 e 22h50; R$ 3,40), localizadas ao sul, e Jabaquara (11 saídas diárias entre 6h30 e 20h55; R$ 3,40) e São Gonçalo (seis saídas diárias entre 5h20 e 12h30; R$ 3,40), situadas ao norte. Redobre a atenção na sinuosa estrada de acesso a Trindade e também na Estrada para Cunha, que está sendo asfaltada, mas ainda tem trechos de terra.
ONDE FICAR
O Centro Histórico reúne a maior parte das pousadas charmosas – e mais caras – da cidade. Mas no bairro também é possível encontrar endereços de boa relação custo-benefício e alguns hostels. Há ainda hospedagens econômicas em regiões vicinais, como Pontal e Chácara Colonial, de onde se chega ao centrinho caminhando. As pousadas na Estrada para Cunha e no Sertão de Indaiatiba, regiões entre 4 km e 20 km do Centro, respectivamente, exploram a proximidade da mata, de rios e cachoeiras. E na Vila de Trindade, a 24 km, os turistas encontram pousos frequentados por surfistas e jovens descolados.
Algumas pousadas criaram recantos que ficam na memória. A Suíte Master Branca da Casa Turquesaenquadra o casario na janela, a Pousada da Marquesa tem sala de café cheia de antiguidades e a sala de estar da Arte Urquijo lembra uma galeria de arte.
ONDE COMER
A oferta de peixes e frutos do mar na cidade é grande, mas poucas casas servem produtos realmente frescos. É o caso do Le Gite d’Indaiatiba, a 20 km do Centro: o chef e proprietário Olivier de Corta busca robalos e camarões pescados na Baía de Paraty. Na subida para Cunha (SP), o Voilà Bistrot combina ambiente romântico e bons ingredientes. Fechando os estrelados, Banana da Terra e Thai Brasil ficam no Centro Histórico, assim como a maioria das opções gastronômicas da cidade.
COMIDA TÍPICA
Camarão Casadinho – Receita tradicional da mesa caiçara, foi batizada dessa maneira em função do seu aspecto: são dois camarões grandes, unidos como um sanduíche. O quitute, que já foi usado para alimentar as tropas portuguesas no Caminho do Ouro, ainda ganha um recheio de farofa de camarões miúdos com coentro e manjericão antes de ser amarrado e frito. É difícil encontrá-lo na época de reprodução (de março a maio), quando a pesca do crustáceo é proibida. Onde comer – Lapinha.
FOTOGRAFIA
Na caminhada em direção ao Forte Defensor Perpétuo (1703), no fim da Praia do Pontal, é possível antever o cenário do alto do morro, junto aos canhões: os telhados do casario e a baía de Paraty, emoldurada pela Mata Atlântica. A partir do Centro Histórico, são 20 minutos a pé.
NOITE
Para ouvir música ao vivo, você pode ir ao Paraty 33 (Rua da Lapa, 357; 3371-7311), com bossa nova e pop-rock. O Café Paraty (Rua do Comércio, 253; 3371-0128) tem bandas de jazz e blues. E o Bendita’s (Rua Doutor Samuel Costa, 267; 3371-1445) recebe shows de bossa nova e MPB.
É TUDO VERDADE
Por causa da falta de cabeamento moderno e do relevo, Paraty é uma cidade para se desligar do mundo digital. O sinal de 3G de qualquer operadora de celular costuma ser ruim. E também não espere muito das redes wi-fi, que caem com o mau tempo.
QUANDO IR
Mesmo chuvoso, o verão turbina o movimento. Contudo, os preços mais altos são praticados em julho, na Flip– reserve pelo menos seis meses antes. Em agosto, as hospedagens ficam lotadas com o Festival da Pinga. Em abril e maio, as diárias são mais baixas.
Por Ian Pellegrini Montes