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2025-02-03

Flip 2018: uma nova aldeia

Flip 2018: uma nova aldeia

A Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) existe desde 2003 e nessa trajetória sofreu várias transformações. Acompanho as últimas oito edições da Flip e nesse tempo presenciei eventos com muitos recursos financeiros e programações concorridas. Mas também presenciei edições tendo de se adequar à crise financeira e falta de investimentos, encolhendo a programação e diminuindo as atividades. Vi curadores tentando agradar a gregos e troianos. Mudanças que mostram uma Flip antenada nas demandas e nas diferentes possibilidades de se debater o universo literário.

Nessa minha relação com a Flip, à frente do Programa Prazer em Ler do Instituto C&A, contribuí levando para a programação da FlipMais importantes debates sobre políticas públicas para a área do livro e leitura. Nessa época o Instituto C&A era patrocinador da Flip. Esses debates que fizeram da Flip um dos principais fóruns nacionais de discussão, envolvendo a participação de senadores, deputados, ministérios, gestores públicos, especialistas e sociedade civil.

Em 2017, vivenciei outra mudança na Flip. O olhar sensível e transgressor da curadora Josélia Aguiar levou outras vozes da literatura para o evento e apresentou uma Flip de muitas mulheres, uma Flip da voz negra, que ecoou na Igreja Matriz, nas pedras, nas ruas do centro histórico e nas casas parceiras.

Mas, minha percepção está me dizendo que em 2018 vamos ver mais uma mudança dessa camaleônica Flip.

Começo a desconfiar que a tão aclamada programação oficial da tenda principal, a qual se tem acesso pagando o valor de 55 reais, corre o risco de ficar um pouco esquecida pelo público. A curadoria fez um excelente trabalho e a programação é muito boa. Mas a minha leitura é que ao redor dessa tenda principal uma “nova aldeia” está se formando, com uma programação bastante consistente, diversificada, sedutora e ainda com a vantagem de ser grátis!

Há algum tempo, entidades e editoras da área do livro investem em casas literárias. Antigamente essas casas eram ocupadas pelos patrocinadores e por editoras de grande porte. Mas hoje editoras de menor porte e independentes começaram a ocupar esse espaço. Provavelmente por ter pouco ou nenhum espaço na programação principal, e também na intenção de conseguir atrair o público que vai à Flip para conhecer sua marca, suas ideias, seus projetos e produtos.

Em 2017 foram sete casas literárias parceiras. Para este ano, a Flip anunciou 22 casas literárias. Ou seja, triplicou! Teremos muitas “programações extra-oficiais” que vão carimbar essa edição da festa como a maior descentralização de público da história da Flip. O que eu acho ótimo! Mas a organização do evento vai ter de pensar sobre isso.

Me dou ao direito de destacar algumas casas em que vou ser plateia:

Barco Flipei – Festa Literária Pirata das Editoras Independentes

Quero muito navegar com o barco Flipei que terá uma tripulação de editoras independentes, com trabalhos bem bacanas. Na programação, debates, slams, lançamentos, saraus, documentários e oficinas. Como bons marujos e marujas, tudo será regado a chopp e pizza artesanal.

Casa do Desejo – Literaturas que desejamos

Nessa casa você deseja e acontece. A casa mais democrática da Flip: Aqui cabe o desejo de todos! O espaço reunirá pequenas editoras, coletivos e autores independentes. Com uma programação de oficinas, mesas de bate-papo, lançamentos, feira de livros, saraus e recitais, a casa receberá mais de 80 autores e artistas que irão conversar sobre feminismo, sexualidade, desejo, amor, erotismo, poesia, mas também sobre política, golpe, e outros assuntos. O meu desejo nessa Flip era não sair de dentro dessa casa.

Casa Instituto Hilda Hilst – Hysteria – Companhia das Letras

A casa oferecerá uma rica programação sobre a autora homenageada desta Flip. O público poderá participar de oficinas, mesas de debate, instalações, intervenções artísticas e muita poesia. Tudo isso sem passar fome ou sede. A casa terá um bar inspirado na obra de Hilda. Nomes como Alice Sant’Anna, Carola Saavedra, Ítalo Moriconi, Ana Lima Cecilio e Zélia Duncan poderão estar bebendo um Manhattan por lá.

Casa Philos – Escrevendo nas margens: visibilidades e visualidades

Essa residência contará com exposições, mostras de cinema independente indígena e quilombola, vendas de livros, lançamento da Revista Philos, teatro, Jazz, escritores LGBTQ+, literatura feminista, literatura negra contemporânea, manifestações culturais dos nossos povos latinos, erotismo e muita poesia.

A Casa Philos estréia em grande estilo, seja pela diversidade das temáticas ou pelo grupo de mais de 60 convidados do Brasil, de Portugal, da Alemanha e da Catalunha. Nomes como: Bell Puã, Marcia Tiburi, Hamilton Borges, Beatriz Azevedo, Boaventura de Souza Santos, João Anzanello Carrascoza, Letícia Brito, Ellen Oléria, Viviane Laprovita, Alexandre Rabelo e Rodrigo Novaes de Almeida não estarão às margens e sim no centro das atenções do público.

Casa Libre & Nuvem de Livros

A Casa Libre & Nuvens de Livros, com o tema “Leitura, gesto político” se tornou um dos mais importantes espaços de discussões da Flip. Neste ano, em parceria com o Clube de Leitura Quindim, a casa preparou uma programação imperdível que mostra o gesto político da leitura desde a infância. Um momento de destaque da programação será a homenagem à Conceição Evaristo, Carolina Maria de Jesus e a vereadora Marielle Franco, brutalmente assassinada neste ano. Para a homenagem, Vozes que não podem se calar, estão confirmadas, Marcelo Freixo, Janaína Damasceno, Tom Farias e a própria Conceição Evaristo. A Lei Castilho, recentemente sancionada, que institui a Política Nacional de Leitura e Escrita – PNLE, também será tema de debate por lá. Muitos nomes do cenário do livro estão na programação da casa como, José Castilho Marques Neto, Renata Costa, Roger Mello, Simone Monteiro, Isma Borges e Guiomar de Grammont.

Casa de Não Ficção Época & Vogue Brasil

Este espaço trará debates e palestras sobre o atual momento da política brasileira, os rumos da economia, a intervenção no Rio de Janeiro, as decisões e incoerências do Judiciário, o empoderamento feminino e o lugar de fala das minorias em oposição à intransigência das mídias sociais.

Casa Paratodxs

Paratodxs é a reunião de diferentes editoras e irá promover encontros, debates, lançamentos e performances artísticas com alguns dos principais nomes da literatura brasileira e internacional. A Casa irá oferecer uma oficina com nomes como Marcelino Freire, Elisa Ventura, Anderson Cavalcante, Rodrigo Casarin, Lucas Guimaraens e Leonardo Tonus nos dias da FLIP. Existe a possibilidade de 20 escritores serem escolhidos durante a oficina e publicados pela editora Nós, em parceria com a Edith.

Casa Santa Rita da Cassia

Cassia Carrenho foi a melhor anfitriã da Flip na edição de 2017. Transformou sua casa em um grande ponto de encontro. A Casa Santa Rita da Cassia prepara uma programação bastante eclética, com bate-papos, panelas de histórias, oficinas, lançamentos. Por lá, você vai encontrar combate de haicai, literatura e sacanagem, terror. Paulo Lins, autor do livro Cidade de Deus e o autor da obra Me chame pelo seu nome, André Aciman estarão conversando com o público. Outra programação legal será a mesa “Mapeando Paraty e outras cidades”, com Ovídio Poli Junior e Flávio Araújo. Toda essa programação regada por uma cervejinha gelada.

Casa PublishNews

A casa apresenta um panorama geral sobre o mercado editorial. Neste ano, com a parceria da Editora Labrador, a programação vai discutir a internacionalização da literatura, os clubes de leitura, as políticas públicas para o livro e a leitura, a autopublicação e não vai faltar o papo de boteco, uma roda literária regada a cerveja com Merav Safdié e Leonardo Neto.

A Casa da Porta Amarela

A casa será um ponto de encontro de editoras, autores e leitores para debater a troca de experiências e impressões sobre livros, leitura e literatura. Mesas sobre Samba (não perco essa), o relação das mulheres e o mercado editorial, piquenique literário, história do livro e história de leitores.

Exposições imperdíveis!

A Energia da Língua Portuguesa – A exposição sobre rodas (utilizando a estrutura de um caminhão) tem o objetivo de enaltecer a língua portuguesa – o quinto idioma mais falado do mundo e o mais utilizado no hemisfério sul.

Casa Europa – Escritores e especialistas europeus e brasileiros debatem sobre Maio de 1968, tema retratado também em uma exposição de fotografias.

Casa SESI-SP Editora – Ponto de encontro de autores da editora, a casa terá uma exposição sobre o fotógrafo francês Pierre Verger em parceria com a editora Corrupio.

Confira também as outras casas literárias da Flip: Barco Laranja Original, Casa Fedrigoni, Casa Cineclube Futura, Casa da Literatura, Casa da Porta Amarela, Casa Europa, Casa Folha, Casa Insubmissa de Mulheres Negras, Casa Maria Angélica Ribeiro, Sesc – Edições Sesc, Sesc – Unidade Caborê e Sesc – Unidade Largo de Santa Rita.

Essa será uma Flip bastante interessante para analisar o comportamento desse público, das suas preferências, seus olhares, suas demandas de debates e reflexões. Todos os anos, a organização do evento apresenta um relatório com os dados sobre o público nas atividades principais. Precisaríamos ter uma maneira de quantificar o público dessas casas literárias para entender essa “Nova Aldeia Flip”. Tenho certeza que teríamos dados bastante interessantes!

Mas nem só de livros vive o ser humano. Eu também vivo de carnaval, por isso, me juntei à Cassia Carrenho e à Raquel Menezes e criamos o bloco Só paro no próximo capítulo, que fará um cortejo bem animado pelo centro histórico, ao som da banda paratiense Santa Cecília. Nos vemos em alguma casa da Flip ou na rua, ao som das marchinhas.

Chegou a turma do funil
Todo mundo bebe
Mas ninguém dorme no ponto
Hahahaha, mas ninguém dorme no ponto
Nós é que bebemos e eles que ficam tontos

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