A FORÇA TRANSFORMADORA DA MÚSICA
Curador do Programa de Educação Musical de Paraty e do festival Estações Musicais em Paraty, o gestor cultural paulistano Marcos Maffei conta um pouco sobre a evolução dos projetos musicais da Casa da Cultura –e de como o contato com a música tem transformado a realidade das crianças e jovens da região
Desde a inauguração da Casa da Música, em junho de 2016, o Programa de Educação Musical em Paraty ganhou não apenas um novo espaço, mas novo fôlego e força para oferecer oportunidades às crianças e jovens da região. Em parceria com a Secretaria de Cultura de Paraty, a Casa da Cultura –gerida pela Associação Paraty Cultural – tem trabalhado para expandir as iniciativas educacionais.
Atualmente, mais de 300 alunos são atendidos pelo Programa nas quase 100 horas de aulas de iniciação e formação musical que acontecem todos os dias da semana, das 10h às 19h, na Casa da Cultura e no espaço sociocultural Casa da Ilha.
São dezenas de instrumentos e modalidades de cursos oferecidos –entre violão, viola, guitarra, bateria, flauta, piano, por exemplo, e ainda teoria, harmonia, prática de conjunto e musicalização infantil. Mais da metade dos estudantes vêm da rede pública de ensino e de regiões periféricas da cidade, como Tarituba, Mangueira, Barra Grande, Corisco e Trindade, preenchendo ainda mais de significado a proposta do projeto.
Mas não só. O alcance do Programa de Educação Musical chega a milhares de jovens, por meio de oficinas como ‘Ritmos e Danças’, levando aulas de percussão e danças populares para as escolas municipais. Com o projeto ‘Ciranda nas Escolas’, também semanal, o grupo Cirandeiros de Paraty marca presença com uma série de apresentações realizadas em escolas e outras
instituições públicas do município, disseminando a cultura da ciranda entre os alunos.
Sucesso em 2017, o festival Estações Musicais também segue firme, como uma iniciativa da Secretaria de Cultura de Paraty, em parceria com a Secretaria de Turismo, a Paraty Cultural e o Paraty Convention, para instaurar uma programação contínua e de qualidade, com apresentações de música de câmara (clássica) ou instrumental (brasileira e jazz) em todos os fins de semana em que não acontecem grandes eventos, acrescentando um atrativo a mais à cidade e reforçando sua vocação como referência em turismo cultural.
A seguir, Marcos Maffei, curador do Programa de Educação Musical em Paraty e do festival Estações Musicais traça um panorama dos desafios e dos avanços dos projetos musicais na cidade.
Por Rosane Queiroz
Paraty Cultural – Quais foram as principais mudanças e conquistas do Programa de Educação Musical de Paraty nos últimos tempos?
Marcos Maffei – Neste ano, estamos dando continuidade e consolidando mudanças que aconteceram essencialmente em 2017. Foi quando a gente reformulou tudo, criou o Programa de Educação Musical, a partir da conclusão da reforma da Casa da Música, em meados de 2016. Descentralizamos as aulas, utilizando também o espaço Casa da Ilha, na Ilha das Cobras, com o objetivo de atender alunos de diferentes bairros. Os cursos foram reformulados, novos professores foram selecionados. Implantamos a ideia de ter dois níveis de cursos: iniciação e formação. Isso para atrair alunos que já tinham alguma experiência, embora não tenhamos encontrado tantos. Hoje, temos cerca de 300 alunos, entre a Casa da Música e a Casa da Ilha. Dos alunos do ano passado, cerca de metade estão dando continuidade aos estudos. Desses, uma parte seguiu para a formação. Incluímos ainda aulas de percepção musical, teoria, harmonia e prática de conjunto. O pessoal das cordas, por exemplo, já tem um grupo de câmara, com violoncelo, viola e violino. Estamos tentando montar
novos grupos, para que todos os alunos em formação estejam fazendo alguma prática de duo, trio ou conjunto.
PC– Qual é o histórico da Casa da Música e em quais aspectos sua restauração trouxe contribuições para o espaço que já existia?
MM –Quando a gente começou a mexer no programa de educação musical, em 2014, só tínhamos uma sala de música, o que limitava bastante em termos de espaço e horas/aula. Quando a reforma ficou pronta, em 2016, foi possível expandir os cursos. Com duas salas a mais, pudemos aumentar as aulas. Há uma sala que dividimos com a Banda Santa Cecília, mas eles só usam três noites por semana, então estamos com os horários bem recheados, com aulas diariamente, das 10h às 19h, e todas as salas ocupadas. Outra novidade foi que conseguimos um professor de viola, além de dois de violino, o que possibilitou criar o quarteto de cordas dos professores.
PC –Como você avalia o papel social da Casa da Música e da Casa da Cultura no contexto de Paraty e região?
MM –Do ponto de vista do alcance, ficamos surpresos no ano passado ao fazer o levantamento dos bairros e escolas onde os alunos estudavam. Descobrimos que eles vêm do município inteiro, de Tarituba a Trindade, embora haja uma concentração maior no Centro. Também detectamos que 2/3 vêm de escolas públicas, para 1/3 de escolas particulares. Ou seja, uma capilaridade maior do que imaginávamos. No começo das aulas, havia uma predominância de classe média e escolas particulares. Não fazemos restrição. Mas hoje podemos afirmar que o alcance das crianças e jovens com menos oportunidades aumentou. Na Casa da Ilha, por exemplo, na Ilha das Cobras, ocupamos um salão grande, superior, onde funcionou a subprefeitura e depois associação de moradores. Ali, acontecem as aulas de música, arte e artesanato.