As ruas do Centro Histórico mantêm o traçado original, acrescido de uns poucos alargamentos como a Rua da Cadeia e a Dr. Samuel Costa. São entrecruzadas regularmente, apresentando uma ligeira curvatura que forma, no conjunto, um leque aberto. As horizontais vertem suas águas para os rios Perequê-Açu e Patitiba, e as verticais derramam suas águas para o mar. As ruas tem o formato de um canal, que permite rápido escoamento das águas pluviais e das marés, que invadem a cidade em tempos de Lua cheia ou nova. Esta convivência e interação mar-cidade é uma singularidade paratiense desde sua urbanização, e mantida até os dias atuais.
O calçamento das ruas iniciou-se em 1776, por ordem do Ouvidor Geral Antonio Pinheiro. As obras começaram em frente à Igreja do Rosário e se estenderam até meados do século XX. Este calçamento é conhecido como “pé-de-moleque”, pelo fato de cada pedra não possuir um formato padrão, assemelhando-se ao doce de amendoim. Atribui-se à maçonaria o traçado da malha urbana, e existem duas versões sobre sua curvatura e as esquinas desencontradas: que permitiria e facilitaria a defesa da cidade em caso de ataques piratas ou que distribuiria a luz solar e os ventos de maneira uniforme por todas as casas, ventilando seus pátios internos, à moda mourisca.
Os maçons tiveram grande participação e influência no desenvolvimento de Paraty, e deixaram suas marcas em nosso Centro Histórico. São encontrados nas encruzilhadas de algumas ruas três cunhais de pedra lavrada, que formam um triângulo que, segundo voz corrente, é símbolo maçônico por excelência, representando Deus. Sobre a Maçonaria é interessante lembrar que seus integrantes, artífices, negociantes e profissionais liberais, eram conhecedores de muitas técnicas e realmente tiveram participação atuante em Paraty desde o século XVIII. Uns poucos sobrados exibem em suas fachadas duas faixas verticais, repletas de desenhos geométricos aos quais se atribuem conotações maçônicas. Outro detalhe interessante é que a maioria das casas setecentistas tem suas portas e janelas pintadas de azul-hortência, que é a cor da maçonaria simbólica ou operativa.
Fonte: Texto adaptado do livro “Paraty Estudante”, de Diuner Mello.