Criado em 1986, em Paraty, o Bloco da Lama virou tradição do Carnaval da cidade, e desde então o bloco sai pelas ruas abrindo as festividades, atraindo moradores e turistas de vários cantos do Brasil e do mundo. A ideia surgiu quando dois amigos, poucos dias antes do Carnaval, estavam pegando caranguejos no mangue do Jabaquara, a 2 km do Centro. Neste mangue há uma grande quantidade de insetos, como mutucas, mosquitos e muriçocas. Com o objetivo de se protegerem das picadas destes insetos, os rapazes passaram lama pelo corpo todo. Por um momento, se olharam e perceberam que estavam irreconhecíveis. Então, decidiram convidar alguns amigos para saírem no sábado de carnaval pelas ruas do Centro Histórico, cobertos de lama e ornamentos naturais. Sucesso absoluto! As pessoas ficaram surpresas, e mesmo apavorados, os turistas queriam observar de perto aqueles seres com características pré-históricas. No ano seguinte o grupo aumentou, e formaram um bloco representando uma tribo pré-histórica, com o objetivo de espantar os maus fluídos e ter um Carnaval em alto astral.
Ainda em 1986, alguns membros participaram de um protesto contra a Usina Nuclear de Angra 2, passando lama em seus corpos, em alusão às vítimas do desastre de Chernobyl, na então União Soviética. Participaram ainda deste protesto a atriz Lucélia Santos e o cientista Luiz Pinguelli Rosa. Em 1995, o Bloco passou a marca de 2.000 integrantes, tornando-se o maior da Paraty.
A cada ano que passa, o Bloco da Lama ganha mais adeptos. Além da diversão, alguns procuram viver esta experiência também devido aos efeitos medicinais da lama da Jabaquara, rica em iodo e enxofre. A lama é composta de pó de pedra, que foi depositado durante muitos anos no leito do mar, e na sua superfície ela apresenta material natural em decomposição, o que lhe confere um odor característico. O bloco chamou atenção até mesmo de grandes jornais como O Globo, O DIA e FOLHA DE SÃO PAULO, e foi matéria do Jornal Nacional da Rede Globo, em fevereiro de 2002.
O “ritual” começa no sábado de Carnaval, às 17h00, quando os integrantes se dirigem à praia da Jabaquara, onde se banham com a lama, e complementam a “fantasia” com a “barba de velho” (uma planta comum na região), cipós e ossos. Depois de desfilarem, os participantes seguem para um banho de água doce no Rio Perequê-Açú, ou para um banho de água salgada na praia do Pontal.
O bloco tem grande preocupação com a natureza, e realiza ações conscientização para a preservação dos manguezais, além de orientar os participantes para brincarem o carnaval com moderação, não causando danos ao patrimônio ou incomodando os demais foliões que não fazem parte do Bloco da Lama.